Planejamentos

Texto “Portugueses e indígenas: os primeiros contatos”

Aprender sobre as “expressões de finalidade” para reconhecer as motivações por trás dos acontecimentos históricos.

  • Analisar as relações entre os participantes e os processos-chave
  • Elaborar representações esquemáticas
  • Verbos de ação
  • Expressões de finalidade
  • EF04HI01 - Reconhecer a história como resultado da ação do ser humano no tempo e no espaço.
  • EF04HI09 - Identificar as motivações dos processos migratórios em diferentes tempos e espaços e avaliar o papel desempenhado pela migração nas regiões de destino.
Passo 1

Definir os objetivos de aprendizagem

A partir da leitura desse texto, espera-se que os alunos contrastem os modos de viver de portugueses e indígenas no início da colonização do Brasil, além de identificar as razões que levaram os portugueses a adotar costumes dos povos locais.

Texto

Portugueses e indígenas: os primeiros contatos

Costumes muito diferentes

Desde que se encontraram pela primeira vez, portugueses e indígenas perceberam que tinham costumes muito diferentes.

Por exemplo:

• Os indígenas tomavam banho todos os dias, enquanto os portugueses raramente se banhavam.
• Os indígenas não usavam roupas, enquanto os portugueses viviam vestidos demais para o clima que encontraram aqui.
• Os portugueses comiam carnes e peixes secos e salgados, enquanto os indígenas consumiam vários tipos de frutas, raízes e peixes frescos.

Aos poucos, indígenas e portugueses foram absorvendo os costumes uns dos outros.

O aprendizado com os indígenas

Os portugueses aprenderam muitos costumes indígenas para se adaptar ao local e explorar as terras em busca de riquezas, como madeira e ouro.

Eles utilizavam as canoas indígenas para explorar os rios e aprenderam a manejar o arco e a flecha para pescar e o tacape para caçar.

Os portugueses começaram a cultivar e a consumir alimentos da culinária indígena, como o milho, a mandioca e o amendoim. Além disso, usavam plantas locais para curar doenças e ferimentos.

O calor fez com que os portugueses deixassem de usar casacos pesados e meias e preferissem roupas de algodão. As noites muito quentes também levaram muitos portugueses a adotar as redes para dormir: eram menos quentes durante a noite e evitavam o contato com animais rasteiros.

Fonte: 

MODERNA. Projeto Buriti – História. 4º ano, 3ª edição. p. 52. São Paulo, SP, 2014.

Relação do texto com a BNCC de História

O texto oferece oportunidades para que os alunos comparem as ações de diferentes grupos humanos (os coletivos de pessoas que são usados para fazer referência aos portugueses e indígenas), no tempo e no espaço que precederam os contatos iniciais ocorridos entre esses povos, bem como as mudanças que se produziram após tais encontros (EF04HI01).

Ao conhecer quais costumes indígenas foram adotados pelos portugueses para se adaptar ao local e explorar as terras em busca de riquezas, é possível conduzir uma reflexão sobre as motivações por trás dos processos migratórios (EF04HI09) envolvidos na colonização do atual território do Brasil.

Código BNCC Habilidade da área de História
EF04HI01 Reconhecer a história como resultado da ação do ser humano no tempo e no espaço, com base na identificação de mudanças ocorridas ao longo do tempo.
EF04HI09 Identificar as motivações dos processos migratórios em diferentes tempos e espaços e avaliar o papel desempenhado pela migração nas regiões de destino.

Relação das atividades com a BNCC de Língua Portuguesa

Conforme será detalhado nos próximos passos, as atividades que propomos para ensinar e aprender a estudar textos, além de favorecer a apropriação de conhecimentos históricos, contribuem para alcançar objetivos previstos nas diretrizes da área de Língua Portuguesa. 

Na medida em que os alunos são convidados a participar da leitura, comentário e análise de textos, espera-se que desenvolvam também conhecimentos letrados próprios dos campos de estudo e pesquisa, incluindo os eixos de:

  • Oralidade
  • Análise linguística/semiótica
  • Leitura/escuta
  • Produção de textos
Passo 2

Entender o texto para ensinar melhor

Para tomar decisões sobre como organizar o trabalho pedagógico em torno da leitura de um determinado texto, é importante atentar-se não só ao conteúdo histórico estudado, como também à forma em que ele é apresentado.

A partir de uma análise minuciosa das características da linguagem de cada texto, como a que apresentamos a seguir, é possível antecipar intervenções produtivas a serem incorporadas no seu planejamento.

Veja o resultado da anotação do texto

Depois de analisar detalhadamente o texto “Portugueses e indígenas: os primeiros contatos”, sugerimos elaborar um quadro de síntese que ajude a visualizar a relação entre conteúdo e linguagem que estará em jogo durante as atividades de leitura.

Veja o quadro de análise desse texto

Conforme pode ser visto no quadro acima, os PARTICIPANTES citados ao longo do texto são os coletivos humanos: “portugueses” e “indígenas”. Também, encontramos trechos que se referem a outros dois participantes, que não são pessoas ou grupos de pessoas. Trata-se de: “o calor” e “as noites muito quentes”.

Na primeira parte do texto, os ACONTECIMENTOS narrados caracterizam aspectos específicos dos modos de viver de portugueses e indígenas, estabelecendo comparações entre as ações relacionadas a seus costumes. Assim, são contrastados os hábitos de higiene (com que frequência “tomavam banho”), vestimenta (que tipos de roupa “usavam”) e alimentação (que produtos “comiam” ou “consumiam”). Por exemplo: “Os indígenas tomavam banho todos os dias, enquanto os portugueses raramente se banhavam”.

Na segunda parte, o texto relata quais costumes dos indígenas foram adotados pelos portugueses, adicionando uma explicação causal expressa em termos de finalidade, isto é, o “por quê?” e “para quê?” de cada uma das aprendizagens mencionadas. Por exemplo: “Os portugueses aprenderam muitos costumes dos indígenas para se adaptar ao local e explorar as terras em busca de riquezas, como madeira e ouro”.

Por fim, encontramos outros trechos que, mediante o uso de verbos, comunicam relações de CAUSALIDADE entre as ações dos portugueses, como por exemplo:

  • “O calor fez com que os portugueses deixassem de usar casacos pesados”.
  • “As noites muito quentes também levaram muitos portugueses a adotar as redes para dormir: eram menos quentes durante a noite e evitavam o contato com animais rasteiros”.

Saiba mais

Para entender melhor as características do texto, alguns conceitos podem ser úteis.

1. Verbos de ação: São aqueles que enunciam as ações realizadas pelos participantes ("cortar", "lutar", "transportar", "pagar", "extrair", "trazer", etc.). Vejamos um exemplo.

MODERNA. Projeto Buriti – História. 4º ano, 1ª edição. p. 16. São Paulo, SP, 2011.

Nesse fragmento podemos observar a utilização dos verbos de ação para relatar as ações dos participantes – aquilo que fizeram: “organizar”, “partir”, “comandar” e “chegar”.

2. Expressões de finalidade: Nos textos didáticos de História, também vinculadas à construção de causalidade, estão as expressões de finalidade que manifestam o propósito ou objetivo com que se realiza a ação. De um modo geral, as expressões de finalidade são identificáveis pelo uso da preposição “para”.

MODERNA. Projeto Buriti – História. 4º ano, 1ª edição. São Paulo, SP, 2011.
MODERNA. Projeto Buriti – História. 5º ano, 1ª edição. São Paulo, SP, 2011.

Podemos observar que a expressão de finalidade sublinhada em cada frase explica aquilo que motivou ou causou o acontecimento relatado: levar notícias ao rei causou ou motivou a volta de uma das embarcações a Portugal; ter de se adaptar ao local e explorar as terras motivou os portugueses a aprender costumes indígenas; explorar os territórios americanos causou ou motivou a colonização; e, porque precisavam de quem trabalhasse nas plantações e nos engenhos, os portugueses trouxeram ao Brasil africanos escravizados.

Passo 3

Usar a linguagem para melhorar compreensão

No texto “Portugueses e indígenas: os primeiros contatos” podemos reconhecer duas partes com características textuais diferenciadas:

  • A primeira, de tipo descritivo, enumera características relacionadas aos hábitos dos coletivos de “portugueses” e “indígenas”. A palavra “enquanto” funciona como palavra-índice da comparação estabelecida entre eles.

  • A segunda, de caráter explicativo, utiliza expressões de finalidade em torno da preposição “para” e, dessa forma, esclarece as razões que levaram os portugueses a adotar costumes indígenas (por exemplo: “para se adaptar ao local…”, “para explorar os rios…”, “para curar doenças e ferimentos”).

Passo 4

Juntando as peças do quebra-cabeça

A seguir, propomos um conjunto de atividades a serem realizadas antes, durante e depois da leitura do texto "Portugueses e indígenas: os primeiros contatos", considerando os aspectos da linguagem que foram analisados nos passos anteriores.

Para te ajudar a enriquecer a implementação das atividades na prática, disponibilizamos explicações detalhadas e exemplos de perguntas-guia para cada etapa proposta

Ao final da página, você poderá baixar gratuitamente os materiais necessários para o trabalho em sala de aula.

Antes da leitura

Como preparar os alunos para aprender com o texto?

Atividades para realizar em sala de aula

  • Apresentar os objetivos e explicar as atividades que serão realizadas como parte dessa nova abordagem para estudar textos de História.
  • Pensar no texto a partir do título, dos subtítulos e das imagens.
  • Listar dúvidas, conjecturas e perguntas sobre o tema.
Organização da turma Materiais
Realização de forma coletiva
  • Texto original.
  • Lousa ou cartaz para registrar as questões e conjecturas dos alunos.

Por isso, as perguntas e intervenções do professor devem:

  • Mobilizar o que os alunos já sabem, a fim de ancorar o estudo do texto nos seus conhecimentos prévios.
  • Ajudar a explicitar as dúvidas e curiosidades dos alunos sobre o conteúdo.

Dessa forma, é possível criar um propósito compartilhado para a leitura que oriente a recepção geral do texto.

Listar dúvidas, conjecturas e perguntas sobre o tema

Os diálogos em torno do conhecimento ou experiências prévias dos alunos sobre tema, título, imagens, etc. criam contextos que estimulam a formulação de perguntas, dúvidas e conjecturas que podem ser registradas em uma lista. Esse registro inicial marca o começo do percurso compreensivo empreendido sobre o texto e pode servir para guiar a leitura e, posteriormente, para verificar as aprendizagens alcançadas.

Durante a leitura

Como ler em voz alta para favorecer a compreensão?

Atividades para realizar em sala de aula

  • Realizar uma leitura expressiva, em voz alta, do texto:
    • usando gestos para marcar o contraste entre os hábitos de portugueses e indígenas;
    • mudando a entonação para destacar as expressões de causalidade e finalidade que explicitam os motivos pelos quais os portugueses adotaram diferentes costumes indígenas.
  • Retomar as principais informações apresentadas e identificar a necessidade de releitura do texto, verificando conjuntamente as questões que ainda não foram resolvidas.
Organização da turma Materiais
Realização de forma coletiva
  • Texto original.
  • Lousa ou cartaz para verificar as questões e conjecturas registradas antes da leitura.

Para isso, ouvir a leitura em voz alta feita por um leitor mais experiente pode ajudar a focalizar a atenção compartilhada dos alunos sobre o texto. Neste momento, algumas intervenções são importantes:

  • Antecipar formas de usar a sua voz e seus gestos para dar ênfase ao que o texto diz, a como diz, ao que quer dizer.
  • Promover a identificação conjunta de questões que não foram resolvidas e precisam de um estudo mais aprofundado do texto.

Como professor, você já estudou conosco aspectos relacionados ao conteúdo e à linguagem dos textos e, por essa razão, é capaz de ajudar os alunos a explicitar suas incompreensões e formular novas perguntas, motivando-os a participar das atividades de releitura e a realizar anotações no texto.

Realizar uma leitura expressiva, em voz alta, do texto

A leitura em voz alta que propomos é aquela feita pelo professor, que se coloca como modelo de leitor para seus alunos.

Por ter estudado o texto em profundidade e conhecer os objetivos de aprendizagem esperados, o professor consegue enriquecer a leitura com gestos faciais e corporais apropriados, modificando o volume e o tom de voz para ajudar a manter e guiar a atenção dos aprendizes.

O uso intencional da voz, dos gestos faciais e corporais estimula a percepção de maior número de detalhes e o acompanhamento do fluxo da informação e das relações expressas, dando aos alunos a oportunidade de pensar mais e melhor sobre aquilo que está sendo explicado no texto.

Identificar a necessidade de releitura do texto

Após a leitura em voz alta, o professor novamente será o encarregado de agir como modelo de quem formula perguntas ao texto e reconhece aquilo que ainda gera dúvidas, convidando os alunos a participar das atividades de releitura e anotação.

Questões como essa podem ajudar os estudantes a perceber a necessidade de ampliar a sua compreensão do vocabulário, bem como das relações entre as unidades informativas apresentadas no texto (de causalidade, temporalidade, composição, contraste).

Aprofundando a leitura

Como explorar juntos o vocabulário e a estrutura do texto?

Atividades para realizar em sala de aula

  • Explicar por que será feita uma releitura do texto: para reconhecer as informações-chave e aprender sobre os tipos de palavras que explicitam as relações entre essas informações.
  • Quem fez o quê? Por que? Para que? Analisar as relações entre os participantes e os processos-chave.
    • Reler o texto em voz alta, com apoio do cartaz ou do texto projetado, comentando as informações apresentadas sobre os modos de viver de portugueses e indígenas.
    • Identificar a organização do texto, destacando as palavras utilizadas para: comparar os hábitos desses povos (“enquanto”); explicitar a finalidade dos portugueses ao adotar cada um dos costumes mencionados (“para…”).
Organização da turma Materiais
Realização de forma coletiva
  • Você precisará de uma versão do texto “espacializado” ou reformatado em cola et commata (seja uma transcrição na lousa, um cartaz impresso ou uma projeção utilizando datashow).
  • As crianças também devem ter acesso a uma folha com essa versão do texto.

Ao reler os textos com a mediação do professor, os alunos têm a oportunidade de identificar, localizar, anotar e comentar a linguagem utilizada para descrever, relatar, explicar o que aconteceu, com quem, como, por que, etc. Por sua vez, você como professor tem a chance de observar o raciocínio dos alunos para oferecer pistas ajustadas às necessidades de cada um no processo de aprendizagem. 

Para isso, propomos:

  • Retomar e aprofundar a compreensão das questões levantadas antes da primeira leitura desse texto em particular.
  • Colocar em prática um conjunto de procedimentos de análise, tanto do vocabulário quanto da organização do texto, a fim de que os alunos ganhem autonomia para enfrentar a tarefa de ler para aprender.

Quem fez o quê? Por que? Para que? Analisar as relações entre os participantes e os processos-chave

A atividade permite um aprofundamento nos fenômenos ou acontecimentos informados pelo texto, focalizando sua atenção nas relações estabelecidas entre os participantes e os processos citados nos fragmentos textuais em análise.

Durante a releitura do texto, é preciso mostrar aos alunos o modo de identificação dos participantes (nomes e grupos nominais) e dos acontecimentos (verbos e grupos verbais), apoiando a análise oral com a anotação escrita. Podemos aproveitar o momento para desempacotar informações e, se for o caso, tornar evidente as ligações entre as informações (temporais, causais, de finalidade, comparação, contraste, etc.).

Exemplos de orientações e perguntas-guia

Após a leitura

Como ajudar os alunos a integrar o que aprenderam com o texto?

Atividades para realizar em sala de aula

Elaborar representações esquemáticas

  • Completar quadro comparativo sintetizando os costumes de portugueses e indígenas.
  • Fazer esquemas a partir do vocabulário do texto, respondendo à questão: por que os portugueses aprenderam costumes indígenas?
    • Introduzir o procedimento de manipulação do vocabulário-chave do texto.
    • Exemplificar o processo de categorização e organização do vocabulário-chave, utilizando elementos gráficos como linhas e flechas para conectar as palavras relacionadas entre si.
    • Após concluir o trabalho em pequenos grupos, elaborar uma versão coletiva do esquema e publicar no mural da sala.
Organização da turma Materiais
A primeira atividade deve ser realizada de forma coletiva. A segunda deve ocorrer em duas etapas: a primeira deve ser conduzida pelo professor; a segunda, em duplas ou pequenos grupos.
  • Lousa ou cartaz para elaborar quadro comparativo.
  • Vocabulário recortável em tamanho grande, para exemplificar o trabalho na lousa.
  • Vocabulário recortável, em tamanho pequeno, para as crianças manipularem.
  • Folha sulfite para colar versão final do esquema.

Assim, espera-se que possam:

  • Usar o que compreenderam para reescrever o conteúdo do texto ou representá-lo esquematicamente (por meio de linhas do tempo, diagramas de fluxo, etc.).
  • Apropriar-se da linguagem dos textos na medida em que vão utilizando-a para comunicar o que aprenderam.
  • Explicitar as conquistas alcançadas e identificar aspectos que ainda precisam ser alvo do trabalho educativo.

Para isso é fundamental que o professor dê espaço para os alunos enfrentarem os desafios propostos, sem “atalhos” que os levem a uma resposta aparentemente certa mas que pouco os ajude a estabelecer conexões por si mesmos e explicitar seu próprio raciocínio para consolidar as aprendizagens propiciadas.

Elaborar representações esquemáticas: fazer esquemas a partir do vocabulário do texto

A manipulação do vocabulário do texto cria oportunidades para os alunos reconstruírem e representarem esquematicamente as informações estudadas.

Para isso, devemos preparar cartões com as palavras-chave do texto e propor que os estudantes as ordenem e agrupem, identificando as conexões entre elas. Vale lembrar que alguns termos podem dar nome aos grupos estabelecidos.

Observar o desenvolvimento dessa atividade nos oferecerá insumos sobre as relações conceituais que os aprendizes estão elaborando sobre o texto e pode orientar a formulação de novas perguntas sobre o tema em questão.

Lembrando que se trata de uma proposta desafiante que exige:

  • passar de um modo linear e contínuo (texto) a um modo fragmentado e descontínuo (palavras e expressões em boxes, conectados com linhas e flechas);
  • organizar as unidades informativas do texto, de forma coerente, no espaço gráfico.