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O que se espera dos alunos no 4˚ e no 5˚ ano do Ensino Fundamental?

Durante os primeiros anos da escolaridade é realizado um trabalho intenso com as crianças em torno da aprendizagem da leitura e da escrita. Porém, depois que elas alcançam certo grau de autonomia como leitoras e escritoras, veem-se diante de novos desafios.

Especialistas nos mostram que a partir do 4º ano do Ensino Fundamental os textos de diversas disciplinas se tornam mais complexos, pois começam a exibir características de “linguagem acadêmica[1, 2]. Para muitas crianças, a forma como a linguagem se apresenta nos textos escolares é pouco familiar [3, 4]. A escola, muitas vezes, é o único espaço que encontram para vivenciar esses usos particulares da linguagem que se distanciam bastante de como a utilizam cotidianamente para ordenar e comunicar a própria experiência.

Nós, educadores, precisamos compreender em que consiste essa complexidade da linguagem dos textos escolares e pensar em como podemos ajudar as crianças a ler para aprender nas diferentes áreas do conhecimento.

Com frequência, costumamos dizer que nossos alunos não conseguem falar dos textos “com suas próprias palavras”. Consideramos que a cópia literal que as crianças fazem do texto indica sua falta de compreensão, enquanto um desenho ou uma paráfrase revela o entendimento que alcançaram – de fato, os gráficos e as paráfrases costumam ser um recurso de síntese e expressão integrada de ideias.

Estudos sobre o modo como as crianças citam e se referem a escritos em suas próprias produções [5] sugerem que aprender a parafrasear exige distanciamento do texto original, diferenciando ideias próprias daquelas que se encontram ou são atribuídas ao texto fonte. Isso é muito difícil para aprendizes iniciantes nas diferentes áreas do saber, pois, para eles, aprender novos conceitos a partir da leitura de textos passa pela apropriação compreensiva das palavras que expressam tais conteúdos. Os alunos precisam, com a passagem dos anos, acumular experiências de leitura e escrita acadêmica para aprender a diferença e desenvolver conhecimentos para tratar os textos como textos.

Especialistas assinalam que nós, professores, costumamos desconhecer as características linguísticas dos textos escolares e, por isso, não percebemos as dificuldades que pressupõem sua compreensão e uso [4, 6]. Tornarmo-nos sensíveis a essas características pode nos ajudar a compreender as dificuldades e desafios que enfrentam os alunos nas diferentes disciplinas, e, também, oferece-nos insumos para tomarmos decisões sobre as atividades que podem ser propostas em sala de aula de forma a contribuir para o processo de aprendizagem.

Referências bibliográficas

[1] Biemiller, A. (1999). Language and reading success. Newton Upper Falls, MA: Brookline.
[2] Fang, Z., Schleppegrell, M. J., & Cox, B. E. (2006). Understanding the language demands of schooling: Nouns in academic registers. Journal of Literacy Research, 38(3), 247-273.
[3] Schleppegrell, M.J. (2001). Linguistic features of the language of schooling. Linguistics and Education, 12(4), 431-459. doi:10.1016/S0898-5898(01)00073-0
[4] Ucelli, P., Galloway, E., Barr, C., Meneses, A., & Dobbs, C. (2015). Beyond vocabulary: Exploring cross-disciplinary academic-language proficiency and its association with reading comprehension. Reading Research Quarterly, 50(3), 337-356.
[5] Horowitz, R., & Olson, D. (2007). Texts that talk: The special and peculiar nature of classroom discourse and the crediting of sources. In R. Horowitz (Ed.). Talking texts. How speech and writing interact in school learning (pp. 55- 90). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
[6] Moss, G. (2007). Textbook language, teacher mediation, classroom interaction and learning process: The case of natural and social Science textbooks in Barranquilla, Colombia. In B. Leial & T. Berber Sardinha (Eds.). Proceedings of the 33rd International Systemic Functional Congress (pp. 879-894). São Paulo: PUCSP.